sábado, 24 de março de 2007

O último momento

180 km/h na estrada: nunca fui tão irresponsável... Tudo bem, isso não vai me atrapalhar mais mesmo. O pôr-do-sol está lindo, pelo menos um dia bonito pra esse desfecho.
É, meu grande amigo, a gente correu muito juntos, hein? Na maioria das vezes, você que ouviu meu choro, sozinho... Mas infelizmente, nem a velocidade consegue mais me alegrar: não consigo mais deixar os problemas pra trás. Aposto que quem te achar aqui nessa montanha, vai gostar de te adotar! Um carrão, né?! Até mais, meu amigo...
Será que estou fazendo a coisa certa ou devo voltar atrás? Não, não posso. Já sofri demais; se continuar, vou continuar sofrendo. Já está decidido. Essa montanha, essa ponte, esse abismo... preciso olhar mais uma vez pra tudo isso. Como um lugar tão bonito assim pode me trazer tantas recordações ruins? Por que todas essas vezes que estava mal, vim pra esse lugar?
Vai ver que é porque eu lembro de você, que você viajaria comigo pra lugares assim. Meu amor, como sinto sua falta. Meu coração sempre dispara quando penso nisso... eu te amo tanto ainda. Só existe uma coisa pior do que vivermos em mundos separados: vivermos no mesmo mundo sem que eu consiga estar ao seu lado.
Mãe, irmã, meus amigos, me perdoem os que gostam de mim. Deve ter uma meia dúzia... Pode parecer egoísmo, mas talvez algum de vocês deve entender como me sinto. Não há nada pior... desculpem-me mais uma vez, mas não agüento mais.
A hora chegou... que medo. Mas nada deve ser pior do que o que vivo hoje. Coragem... coragem... agora...
_____________________________

Ah!!! Como é rápido!!! Que falta de ar!!! Eu quero gritar!!! Não consigo!!! Eu quero me segurar!!! Não!!! Calma!!! Calma... não... não preciso me segurar... o tempo já passa devagar... estou caindo... mas eu posso voar... É engraçado como tenho consciência desta insanidade em minha mente...
Só consigo me lembrar de você agora... eu queria muito mesmo voar com você. Como sinto sua falta, como sinto saudade... do seu sorriso, motivo pelo qual um dia já fui feliz, completo. Mas eu estarei por perto, mais conformado por saber que é impossível te tocar por causa das leis do universo e não por causa de nós mesmos.
Nossa! Dá pra ver a ponte se distanciando. As rochas, a terra do lado desse penhasco também. Tão rápido, mas eu consigo ver tudo. Céu... eu acho que vou pro céu... Apesar de mais longe, mais perto... Sou passageiro, já não controlo meu destino. Estou chegando... só preciso de mais esse segundo, só preciso dizer que te amo.
Eu te amo. Te amo demais.
Pronto. Que alívio... hora de descans

3 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto, ainda que trite e um tanto desesperador para uma alma acorrentada...

Anônimo disse...

Nem sei o que comentar a respeito, Artur... Talvez eu não esteja apta ainda a tentar explicar e comentar o que eu mesma não entendo...
Como a Karina me disse uma vez, num momento muito propício: "Só o tempo, minha amiga, só o tempo..."

Não sei por quanto tempo eu vou amar você, não sei por quanto tempo irei suportar isso... mas a morte parece ser mesmo mais fácil do que superar qualquer adversidade... afinal de contas, a morte é passiva.
Sei lá, talvez viver seja mais interessante, pois mesmo sofrendo, somos os pilotos do nosso destino. Podemos brincar de Deus e fazer o que bem quisermos de nossas vidas. Talvez seja bom ter a liberdade para arriscar, para tentar, para cantar com Marisa Monte: "Portas e janelas ficam sempre abertas para a sorte entrar!"

Fato é que estamos aqui, vivos, e a vida impõe-nos ação. Não dá para ser passivo diante da vida - isso é estar morto. Levar uma vida popz também é estar morto.

Anônimo disse...

Só existe uma coisa pior do que vivermos em mundos separados: vivermos no mesmo mundo sem que eu consiga estar ao seu lado.

ah, como doem essas verdades.

E, ah, sei muito bem doq vc fala, meu porta-voz, mas não vamos ficar nessa mais tempo né? =/
ai ai... como é difícil comentar um texto que mexeu com a gente...

mas vou te dizer oq eu disse prum amigo... a vida é muito curta pra nos deixarmos levar por esses sentimentos.
E, por outro lado, a vida é muito grande e temos muito tempo... o tempo muda as coisas, viu? demorei anos de fato pra perceber, mas ele muda. Sentimentos vão, somem, aparecem e algumas vezes voltam.

Mas a gente não tem como saber como e quando tudo vai acontecer.
E é essa a (des)graça da vida... =S