quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Heterônimo de mim mesmo

Sou heterônimo de mim mesmo
Uma personalidade
Um astro jogador de palavras
Que ganha sua atenção

Consigo o credo na minha felicidade
Por mais vazio que meu interior seja
E toco os que se identificam
Com a minha tristeza
Por acharem impossível
Construir uma mentira
Sobre bases de uma atuação
Com tamanha sutileza

Sou o fingidor
Que finge a dor que deveras sente
O eu lírico
Da minha propria existência
O ator da minha própria vida,
O professor da dramaturgia
De diversas interpretações

Sou heterônimo de mim mesmo
O eu camuflado de eu
O segundo dono de um só ego
A máscara do meu verdadeiro ser
Que só não esconde
A intenção de cutucar a alma
Daquele que é o pior cego
Aquele que não quer ver

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Esperança

A esperança é inerte à alma,
Uma busca incessante
Até que acabe o mundo,
Que acabe os tempos,
Que acabe a própria esperança.

Pode ser o fim mais trágico
Se morrer antes dele
E pode ser o fim mais bonito
Se não houver fim.

Presa por só um fio
Que se arrebenta numa ponta
E que se remenda numa outra
É essa luta tão árdua,
Tão miserável...
Digna de milagres divinos
Em somente um humano,
De amores tão humanos
Que põem em dúvida o poder dos deuses,
Da fraqueza mais animal,
Da desgraça eterna...
É a que faz mergulhar na incerteza,
Se render ao vazio.

Mas ainda assim,
Passa por cima da dor,
Desafia cada último sacrifício...
Então,
Como não me mover,
Como deixar de amar,
Como parar de acreditar,
Como viver,
Se pelo o que vivo,
Se no que acredito,
Se o que amo,
Se o que me move
É você?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Parece que chega um momento
Que tudo que nos compõe é destruído
Um momento que não permite mais crescimento
Uma peculiaridade que, quando percebemos,
Acaba com algo e se torna incontrolável
Consome tudo
Sentimentos, pensamentos, momentos e vida e alma
Levamos tanto tempo amando pessoas
E deixamos de amar de uma hora pra outra
Uma a uma...
Desumanizamos, monstrificamos
Pego-me imaginando
Na minha ainda mal-aproveitada juventude
Ao observar tudo escorregar pelos dedos de minha mão
Se atingi esse ápice em tão pouco tempo...
E se tenho tanto ainda pra viver
O que será de mim quando estiver velhinho?
Não amarei mais como adolescente?
Incoseqüentemente, eternamente?
Será um vazio enorme? Restarão só lágrimas?
Não haverá mais aquilo que um dia foi tão forte
Somente sensações esvaecidas para o resto da minha vida?
Se for isso mesmo,
Como explicar o nostálgico sentimento,
O olhar fixo num horizonte perdido,
No passado que não volta mais?
Como explicar a dor tão humana que rasga por dentro
Pela intensidade do que se sentia,
Pela falta do que já não se sente?
E como explicar as lágrimas
Pelo bem-traçado caminho do rosto de um velho
Ao sentir falta dos seus amores deixados pra trás,
Na sua longínqua juventude?
Olhar que também já se foi... que não volta mais...
...que não volta mais...

domingo, 5 de outubro de 2008

Elogio

- Nossa! Gatinha, hein?
- Pfruuu…
- Você pode falar comigo? Pelo menos por um minuto?
- Vai… fala…
- Eu só brinquei com você porque eu acho que devo viver todo dia como se fosse o último dia da minha vida, como se eu estivesse o mais próximo de alcançar a felicidade completa. Eu não queria que encarasse o que falei como uma cantada, mas como um elogio. Dessa forma, você pode se sentir feliz por saber que alguém simpatizou com você e eu posso me sentir feliz por conseguir arrancar um sorriso seu… Por favor, encare como um elogio, é só isso.
- Que bonito… me desculpe.
- Tudo bem!
- Eu fui arrogante…
- Tudo bem, de verdade!

A moça sorri. O rapaz devolve o sorriso.

- Mas agora… posso pegar o seu telefone?