quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Carta a um amigo

Eu sei que há muito tempo não o vejo e que há muito tempo não tenho suas notícias.
Gostaria de pedir desculpas por estas palavras que lhe devo, mas a culpa é sua.
Não, isso não é uma acusação. É somente um desabafo por você fazer tanta falta.
Sinto falta das risadas, das piadas com sentido e sem sentido,
Das piadas com sentido e sem graça e das piadas sem sentido que caíamos no chão de tanto rir,
Dos papos sobre as mulheres, sobre os sentimentos,
Sobre a profundidade da alma e a amplitude das filosofias.
Sinto falta de falar sobre os filmes que você tanto me contava, sobre as músicas que eu conhecia,
Dos livros, das artes, da cultura...
Lembro das coisas que só podia aprender com você e constato que hoje já não aprendo mais nada disso.
Sinto falta da sua alegria mesmo na busca por respostas que deixavam você olhando inerte para o nada... e dos poemas...
E hoje, percebo que você se apagou. Ou o apagaram. Por quê?
Na saudade, busquei pelos seus textos, suas referências, mas não sobrou mais nada.
Todos na vida já se arrependeram, mas apagar o passado não nos faz outra pessoa
Nem aos nossos olhos nem aos olhos dos que nos querem e muito menos ao olhos dos que não nos querem
Por sorte, eu ainda os tinha. Por uma falha ou por destino, só não sei ao certo.
Só sei que fiquei feliz ao relê-los porque pra mim, não somos o agora ou fomos o ontem ou seremos o amanhã.
Pra mim existimos, somos. Somos essência.
Por mais que você não siga mais algo hoje, ao lembrar, você se identifica. Com o sim ou com o não. E nostalgia-se. Essência.
E espero que nos encontremos em breve. Espero que você me responda, que esteja perto que ainda acredite no mundo, nas pessoas...
E que saiba que ainda tem um amigo.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Chuva

A temperatura já estava mais amena no fim da tarde
Quando, deitado no chão, contemplava o céu
Nem tão azul, mas já não tão limpo,
Me perdendo por entre memórias
Das quais ainda gostaria de viver,
Das quais ainda vivo.
E o céu, parecendo saber de mim, escureceu.
E eu me vi nele
Ao mesmo tempo que agarrava minhas queridas lembranças.
E então caiu o primeiro pingo. Só o primeiro.
Suficiente para me fazer esquecer a tristeza
Onde me encontrava por pelo menos um segundo!
Mas memória que é memória,
É insistente, sempre volta.
E a minha já estava lá,
Tão para mim como eu ainda a queria.
E veio o segundo pingo.
E a memória partiu e chegou...
E o terceiro, só que mais rápido. E o quarto.
A memória já não voltava mais
Enquanto eu perdia a conta.
O quinto, o sexto... e todos já eram um.
Continuei deitado com os olhos fechados
Ouvindo o que não era mais um estalo do gotejar,
O que se tornava o chiado das águas que corriam
Sem me deixar lembrar de nada,
Que borravam meus pensamentos
Com sua fina, distorcida e transparente película.
Melancolia que é melancolia não se vai,
Mas alívio que é alívio chega.
E agora eu só desejo a chuva...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Hoje é dia!

- Hoje é dia, hein?
- Dia do quê?
- Dia de tomar umas...
- Tomar umas?
- Tomar umas três...
- Três? Aí sim, hein?
- Umas três dúzias!
- Ô louco...
- Três dúzias de caixa!

o.O