segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Se um dia...

Se um dia eu tiver tremeliques
Vou culpar o fogo que aqui queimava
Os músculos e olhos e ouvidos e cabelos
E sentidos à flor da pele

E vão pensar que é frio
Que é suadouro, que é doença
Toque, tique, mania, loucura... tremelique...

Se um dia eu ficar surdo
Vou culpar as notas que aqui cantavam
A melancolia e a solidão e o desespero e o lamento
E os berros das já emudecidas cordas vocais

E vão pensar que é idade
Que é velhice, que é cera
Desgosto, desastre, chiado, volume... surdez...

Mas se um dia eu ficar cego
Vou culpar você que sempre ali esteve
E não vinha e não falava e não mostrava e não olhava
E não amava

E vão pensar que é catarata
Que é normal, que é deficiência
Beleza, ironia, negação, inconformismo,
Desistência, abandono, cansaço, amor... cegueira...

Dizem que os olhos são as janelas da alma.
Então a cegueira é as cortinas da esperança.

3 comentários:

Amanda N. disse...

E já sabíamos que, o pior cego, é aquele que nunca desiste, cuja esperança nunca morre.
Mas dizem que o pior cego é aquele que não quer ver.

Gabriela disse...

Quem disse que poema a gente lê? Esse eu SENTI.

E olha que eu moro longe...

Luísa disse...

eu tenho medo de um dia, por esperar demais, talvez, eu abra bem os olhos e não exista mais nada que valha a pena ver.